O meu mundo era um mundo diferente dos outros numa certa peculiaridade, tudo parecia ser igual a qualquer outro lugar, mas por algum motivo nesse meu plano não existia uma cor, era um mundo cheio de amarelos, de verdes, de azuis, rosas e púrpuras, no entanto não existia vermelho…
No início dos meus tempos eu morava em uma cidadezinha pequena, era daquelas bucólicas, nada muito parecido com o centro movimentado a qual eu era acostumado desde menor, mas eu ainda era uma criança. Cheguei de mansinho, não conhecia ninguém e os hábitos eram totalmente diferentes daqueles que eu convivia; minha casa era grande para nossa família, era branquinha da cor da neve com uma garagem espaçosa, possuía uma sala enorme e era maior do que todas as salas que eu já estive morando, eram três quartos grandes, dois banheiros, um jardim de inverno e uma área espaçosa ao fundo, onde havia mais um banheiro e um quarto, nossa casa tinha o chão de piso frio que juntamente com suas paredes gelo davam certo ar de gelidez, mas aquilo estava para mudar, nossa casa não conhecia a minha mãe, uma mulher devota as cores e as flores.
Eu já havia me ligado a terra, já era mais um morador da ilustre cidade do campo, fazia meus deveres, brincava na rua, saia à noite e me divertia na madrugada, fiz amigos, conheci meninas e descobri o doce sabor que a vida pode te oferecer.
Mas a minha história começa quando por um acidente eu resolvi plantar uma sementinha no meu quintal, apenas meu, ninguém sabia disso e eu também não queria que ninguém soubesse, pois todos têm os seus segredos e aquele era o meu precioso, com o tempo eu me comprometi com ela, fiz juras e mais juras e prometi a mim mesmo que iria ser o melhor cultivador possível. Logo começou a crescer uma pequena árvore nesse meu lugarzinho secreto, onde só eu tinha acesso e apenas entraria quem eu quisesse, mas acontece que eu plantei sem saber o que era, vi que era uma arvorezinha, mas não sabia qual fruto que iria nascer ali.
O meu cuidado era enorme, e a cada dia me surpreendia com os cuidados aplicados aquele cantinho que eu visitava todos os dias, e com o tempo aquilo se tornou mais do que especial, se tornou algo indispensável, já fazia parte de mim. Nesse exato momento da minha vida descobri que não era um segredo apenas meu, e que todos têm o seu jardim secreto, que todos cultivam alguma coisa e muitos acabam por colher coisas boas e alguns não colhem nada, e para ser sincero esse jardim se assemelha ao amor, mas me desculpem, não conheço muito bem o amor para fazer qualquer comparação (apenas digo o que ouço as pessoas mais velhas comentarem com um tom de descoberta para mim). No começo, como tudo, aquilo me parecia um dever e com o passar do tempo se tornou um hobby e ainda conseguiu se tornar um hábito, eu não conseguia deixar de cultivar o meu pezinho de sei lá o que, até que em um dia aquela pequena árvore já florida me deu um susto, me deixou de uma forma que eu jamais esperaria ficar ao longo da minha longa, vasta e enorme juventude, no meio daquelas folhas brilhantes avistei no meio de alguns frutinhos laranjas uma bolinha de cor estranha, de tom vívido que posteriormente vim a apelidar de “vermelhinha”, este foi um daqueles momentos de descoberta que marcou minha vida, naquele dia eu apenas fiquei eufórico, mas hoje me recordo daquele dia como se fosse hoje e ainda consigo apreciar a importância que ele teve para mim. Aquela frutinha me parecia especial e a curti durante alguns meses a fio e logo não consegui mais me segurar e fui correndo avisar a todos sobre ela, mas no final descobri que existem coisas que acontecem estranhamente e sem uma razão.
Contei aos meus pais, eles acharam graça a primeira vista, pois não existia nada naquela cor que eu descrevia da melhor forma possível, após minha chateação constante eles começaram a achar que tinha algo errado comigo, eu poderia estar me drogando, tendo algum problema de ordem psíquica ou algo muito anormal. Não é que eles me levaram ao psicólogo? Não direi que foi ruim, aliás, foi ótimo, parecia que falar sobre aquela fruta me fazia bem de um certo modo, mas esse era apenas o meu lado e o Doutor logo começou a perceber que não era um problema mental, mas que talvez fosse verdade e usando de seus contatos montou uma equipe de pesquisa, ela era composta por médicos, engenheiros, cientistas e até astrônomos e eles tentaram desvendar aquele mistério da fruta que possuía a cor inexistente.
Foi nessa hora que percebi que a tinha deixado de lado, ou talvez ela teria fugido por medo de ser diferente para mim, e quando voltei ao meu jardim ela não estava lá, garanto a vocês que fiquei triste por um bom tempo, mas meus pais e a vida me ensinaram a não se deixar abater e sim a comemorar por ter vivenciado algo diferente da maioria; Os cientistas afirmaram de todos os jeitos que aquilo não existia, que tudo não passava de uma farsa e que jamais houve algo do tipo ali no meu jardim, claro que eu fiquei meio descrente de tudo aquilo, mas como contestar a conclusão de pessoas mais velhas e estudiosas?
Eu já não era mais novo, mas mantinha o meu hábito e continuava a cuidar do meu lugarzinho predileto e de época em época surgiam grandes frutas laranja que me deliciavam por dias que pareciam infinitos de tão prazerosas que eram, e teve uma dessas frutas, que maior que todas me viciou, e fez com que quase todos os dias eu celebrasse.
Mas como meu mundo é uma desordem e fora da realidade em um desses dias de visita a laranjinha em meio as folhas percebi algo de diferente e de alguma forma, de algum jeito que não tem explicação estava ali escondida a frutinha “vermelhinha” que tanto duvidaram existir no meu jardim, te confesso que naquele momento achei que estava louco, pois já haviam constatado e até eu mesmo havia desacreditado que ela um dia havia existido e por alguns segundos tudo não aparecia mais no meu campo de visão, era apenas aquela frutinha que parecia que fazia parte de mim já, a minha descoberta, o meu reencontro com o único.
Foi nesse dia que a cataloguei, preservei, e posso dizer que amei que eu revelei ao mundo e a todos aqueles que duvidavam de mim da existência daquilo que só eu acreditava existir, aquela cor diferente de todas que mais tarde veio a ser conhecida como vermelho.
Através dessa história que eu vivi apresentei um conceito novo a todos, que hoje é banal a vocês, e através da minha descoberta que hoje falam da paixão, falam do amor, e automaticamente ligam à essa cor; e hoje no meu jardim existem de todas as cores, das misturas de todas com o vermelho, criando novas tonalidades, criando novas misturas e que ajudaram a semear nesse mundo de hoje todo esse carinho, por isso sou orgulhoso de dizer que ajudei senão ao menos para muitas pessoas, pelo menos a mim a apresentar o amor.
What they think